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domingo, 14 de setembro de 2014

Em Salgueiro, Irineu do Mestre mantém a arte de fazer vestimentas para vaqueiros

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As vaquejadas ainda são uma tradição no interior do Nordeste, principalmente no Sertão. Mas nem sempre os admiradores desses eventos que entram para o calendário cultural e festivo de alguns municípios percebem a beleza da arte que está por trás das vestimentas e acessórios do vaqueiro – gibão, perneira, peitoral e chapéu de couro – feitos com maestria por quem abraça um artesanato digno de exportação. Quem visitar a zona rural de Salgueiro (Sertão Central), não deve deixar de conhecer a Fazenda Cacimbinha, onde vive uma família que há um século perpetua o ofício de transformar pedaços de couro em peças artesanais. 
Na linha de frente da terceira geração está o jovem Irineu Batista, 47, conhecido como Irineu do Mestre, que mantém a produção iniciada em 1909 por seu avô, Mestre Luiz. A arte também foi herdada do pai, Zé do Mestre, que chegou a fabricar vestimentas (só gibões) para o amigo Luiz Gonzaga, o ex-presidente Emílio Garrastazu Médici, o rei da Espanha, Juan Carlos, e até o papa João Paulo II, em sua última visita ao Brasil. As peças também chegaram às mãos do escritor Ariano Suassuna, do ex-governador Eduardo Campos e o ex-presidente Lula.
Junto com a esposa e três filhos na linha de produção, Irineu dá continuidade à arte que está no DNA da família. Muitas vezes, escuta os palpites do pai, Zé do Mestre, que mesmo com problemas de saúde, aos 81 anos, continua rabiscando, cortando e costurando novas peças. Como se sente responsável por expandir o legado artístico, ele garante que há um peso de responsabilidade e cuidados para não perder a originalidade, pois cada geração foi marcada por um tipo de produção.
Seu avô era conhecido como exímio artesão de calçados, chegando a fazer seu primeiro par de sapatos e sandália ainda menino. “Ele era muito pobre e realizou o sonho de fazer sua primeira peça aos 13 anos. Começou a vender sua produção sobre jumentos carregados em cidades da região”, conta Irineu. Já Zé do Mestre abraçou o artesanato a partir da roupa de vaqueiro, enquanto Irineu se encontrou na produção do chapéu de couro. Quando mais novo, Zé do Mestre costumava fazer aboios enquanto Irineu faz improvisos na poesia popular. 
As peças em couro assinadas por Irineu também chegaram às mãos de artistas e políticos. Ele entregou em mãos, chapéus a Gilberto Gil, Zé Ramalho, Dominguinhos, Fagner e Targino Gondim. “Produzi peças também para os presidentes Lula e Dilma Rousseff com o símbolo do nosso time da terra, o Carcará”, diz ele, que já enviou peças para serem comercializadas até em Milão, na Itália.
Ainda do exterior tem recebido encomendas de países como Bolívia, Paraguai e Estados Unidos. A vida de Zé do Mestre e de sua família foi contada em uma exposição montada este ano com o tema Sertão de Zé do Mestre, que incluiu fotografias, vídeos, peças em couro, ferramentas de trabalho e mostra de documentário. A exposição passou por várias cidades, incluindo o Recife. (JC).

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